Quando Cássia Kis revelou que Leila era a assassina de Odete Roitman na novela Vale TudoBrasil, o país parou para assistir ao desfecho.
O mistério durou apenas 11 capítulos, mas a reação foi digna de um terremoto televisivo: jornais de capa, discussões em praças e até um concurso patrocinado por uma marca de biscoitos para adivinhar o culpado. O motivo da escolha de Cássia Kis não foi só roteiro; foi Gilberto Braga e o diretor Dennis Carvalho que decidiram nos bastidores.
O choque nacional da revelação
Na noite em que a verdade foi confessada, Leila desabou em lágrimas diante de Bartolomeu (interpretado por Cláudio Corrêa e Castro) e Eunice (Íris Bruzzi). O flashback mostrou o tiro disparado por engano, acreditando que a vítima seria Maria de Fátima, mas quem recebeu o disparo foi a vilã Odete Roitman. O público, ainda ainda sem entender a motivação, ficou em silêncio por minutos – um raro momento de arrependimento coletivo na TV brasileira.
Segundo pesquisas de audiência da Globo, a cena alcançou 45% de share em horário nobre, número que não seria superado até a estreia da novela "Avenida Brasil" em 2012.
Como a escolha de Cássia Kis aconteceu nos bastidores
Em Gilberto Braga: O Balzac da Globo, Artur Xexéo e Maurício Stycer contam que, numa reunião de roteiro, Dennis Carvalho perguntou ao autor quem mataria Odete. Braga respondeu com outra pergunta: "Quem é a mulher que tem a cara de mais louca do elenco?".
Sem rodeios, Dennis Carvalho apontou para Cássia Kis. A decisão foi selada três dias antes das gravações. Como conta a atriz, "No dia seguinte, eu estava estampada na primeira página de todos os principais jornais do país, como a assassina de Odete Roitman".
O diretor ainda revelou que a morte de Odete estava prevista na sinopse original, mas a identidade da responsável só foi confirmada nos últimos minutos de produção, garantindo o suspense máximo.
Análise da motivação da personagem Leila na versão original
Leila chegou de viagem sem avisar, descobriu o caso entre Maria de Fátima e Marco Aurélio (Danton Mello) através da empregada Deise. Revoltada, seguiu o marido ao apartamento e, ao encontrar uma arma, disparou contra quem acreditava ser a amante.
O tiro acertou Odete, que discutia com Marco Aurélio sobre os roubos na empresa TCA. A ambiguidade da cena reflete a crítica social da novela: a classe média insatisfeita (representada por Leila) acaba se tornando o instrumento da violência contra a elite (os Roitman).
Especialistas em mídia, como a professora de Comunicação Social Ana Lúcia de Oliveira, apontam que Leila simboliza a “fúria contida” das mulheres que, na década de 80, começavam a desafiar papéis tradicionais, ainda que de forma trágica.

O legado cultural e as repercussões na mídia
O impacto foi tão grande que a Indústria de biscoitos Biscoitos Ouro lançou o concurso "Quem matou Odete?". Mais de 300 mil respostas chegaram, e o prêmio foi um passeio ao Estúdio Globo. A cena ainda é citada em programas de humor como "Zorra Total" e em debates sobre impunidade.
Na despedida, Leila foge do Brasil a bordo de um jatinho com Bruno (Miguel Moro). Ao sobrevoar a cidade, o piloto lança uma banana para a multidão – uma metáfora visual que ainda hoje faz referência às críticas de Gilberto Braga à corrupção.
Em 2020, o livro "Vale Tudo – A história da novela que mudou a TV" de Ricardo Gouveia reavivou o debate, mostrando como a trama antecipou discussões sobre violência doméstica e poder econômico.
Remake de 2025: nova Leila, novo destino
O remake, exibido em 2025, traz Carolina Dieckmann no papel de Leila. A personagem ganhou um ar mais romântico, focado em busca de amor e sexualidade, afastando-se da fria frieza assassina.
Agora, Leila tem um romance emergente com Marco Aurélio (Alexandre Nero) e, ao se decepcionar com Renato (João Vicente de Castro), encontra redenção ao lado do novo parceiro.
Os roteiristas afirmam que a mudança serve para preservar o suspense do remake, já que a morte de Odete Roitman (interpretada por Débora Bloch) deverá ter outro culpado. A expectativa é que o público experimente um choque diferente, porém ainda nostálgico.

Fatos chave
- Leila, interpretada por Cássia Kis, comete o assassinato em 1988‑89.
- Gilberto Braga escolheu a atriz baseada em sua “cara de mais louca”.
- A cena atingiu 45% de share de audiência na Globo.
- O concurso da Biscoitos Ouro recebeu mais de 300 mil respostas.
- Remake 2025 traz Carolina Dieckmann e altera o destino da personagem.
Perguntas Frequentes
Por que Leila foi escolhida como assassina na versão original?
A decisão veio de uma troca de olhares entre Gilberto Braga e Dennis Carvalho, que acharam que a "cara mais louca" do elenco combinava com a tensão da cena. A escolha também serviu para gerar suspense máximo antes da gravação final.
Qual foi o impacto da revelação na sociedade brasileira?
O público ficou em estado de choque, com discussões nas redes, nas praças e nos programas de televisão. O índice de audiência bateu recorde, e a cena passou a ser referência cultural, inspirando concursos, paródias e debates sobre impunidade e violência doméstica.
Como o remake de 2025 mudou o perfil da personagem?
Na nova versão, Leila (Carolina Dieckmann) foi reescrita como uma mulher mais romântica e vulnerável, focada em questões amorosas ao invés de ambição criminal. Essa mudança visa preservar o suspense, pois a autoria do assassinato de Odete Roitman será atribuída a outro personagem.
Quem foram as outras figuras envolvidas no caso dentro da trama?
Além de Leila, a trama contou com Marco Aurélio, seu marido, Maria de Fátima, a amante, e Deise, a empregada que revelou o caso. Cada um tem papel crucial no desencadeamento do crime.
O que a crítica especializada diz sobre o significado da fuga de Leila?
Especialistas como Ana Lúcia de Oliveira interpretam a fuga como uma metáfora da impunidade que permeava a sociedade dos anos 80, mostrando que o poder econômico (representado pelos Roitman) podia escapar da justiça, enquanto a classe média ficava à margem.
Marty Sauro
outubro 6, 2025 AT 20:40Ah, uma novela que ainda dá mais plot twist que notícia de político horóscopo.